Friday, November 30, 2007

Kruger Park

Uma das muitas fotos tiradas pelo jornalista Machado da Graça aos seus amigos leões no Kruger Park. Eles, conhecendo-o bem, já se põem em posição fotogénica.

Thursday, November 29, 2007

UM ANIMAL COM PRESTÍGIO


O meu amigo Machado da Graça, jornalista em Moçambique, vai quase todas as semanas ao Krugar Park cumprimentar e trocar impressões com os animais seus habitantes. Mais por gestos que por palavras, pois os bichos só falam inglês e afrikander. Este amigo, chamado-se João, passa a John ali no parque.
Pois sabendo da minha grande amizade e admiração pelo Gala-Gala, mandou-me duas fotos deste simpático lagarto. Não tenho a certeza mas parece que ele,
na foto, lhe pergunta por mim. Não se admirem. Escrevi um dia um livrinho intitulado "As aventuras do gala-gala Bisnaga", que teve duas edições de 7.500 exemplares cada! É obra.
Quando era miúdo e o mais novo a tribu, ia com os meus irmãos "à caça dos gala-galas", plural desnecessario pois nem um se apanhava, felizmente. Com as mortalhas Ziz-Zag do pai e os alfinetes e agulhas da mãe, fazíamos os projectéis da zarabatana, esta um segmento de cana, por vezes tubos de plástico, restos de instalações eléctricas na zona.
Partíamos manhã cedo, pela fresca e regressávamos à hora da comida, suados e esfomeados e, claro, sem qualquer troféu de caça.
Ao Machado da Graça, homem de mil aventuras e habilidades, os meus agradecimentos pela foto que, com a vista já cansada que agora tenho, não sei exactamente se é o Bisnaga se o filho, o Bisnaguinha.

Wednesday, November 28, 2007

FORA DE PRAZO

Pelos meus 16/17 anos aquele terreno à entrada de Cascais, chamava-se a Ribeira das Vinhas e era baldio. Então, alternada e periodicamente, ali se instalava um Luna Park (denúncia bacoca de um provincianismo latente, dolorido e ambicioso) e um circo: o Circo Rentini. Todo em chapa ondulada, com mais correntes de ar que o Inferno de Dante (e mesmo sem ser o dele) e onde, nos entreactos actuava, com a sua viola, a irmã do Camilo de Oliveira, a Zurita de Oliveira, cheia de talento e de outras coisas boas que sobressaíam à vista, mesmo desarmada.

Pois durante os Luna Parks, eu e o meu gang, lá íamos às tômbolas, tiros ao alvo, bola no cubo, argolinha em garrafa e etc., a todos os jogos que davam prémios. Nunca recebi nenhum. Nessa altura eu tinha um cão aloprado chamado Fox e uma cabra bondosa e terna chamada Shéhérazade. O cão ia connosco; a cabra ficava numa quinta no alto da Ribeira das Vinhas, portanto em terreno sobranceiro ao Luna. Ao não receber qualquer prémio, ficava possesso e cheio de raivas pequenas e vingava-me apostando com os amigos que tinha uma cabra chamada Shéhérazade e que ela respondia quando a chamava. Desacreditavam. Então fazia a aposta e gritava, a plenos pulmões: “Shéhérazade!” E logo se ouvia lá em cima o seu gentil mas sonolento Mé!!!!! Aí ganhava qualquer coisa; a aposta...

Depois casei e, no Verão, os fins-de-semana comportavam a Feira Popular, na zona das panelas, pois bem delas precisávamos para a caverna. Ao fim de três ou quatro anos saiu-nos uma cadeira de praia, que deve ter ficado mais cara que uma Luís XV, estofada a brocado.

Na quarta dinastia, nos últimos dez anos, cenários do época actual, respeitosamente todas as semanas lá vai o dinheiro para o Totoloto e mais o Jack (nome próprio da simpática figura). Pois saíram duas vezes um três, mas cheios de requintes de malvadez, com aproximações que nos levam a pensar, “na próxima é que é” e, afinal, não é, e deveria haver um prémio para quem acerta ao lado e até já estou habituado, nos correios, a vislumbrar a fila que anda melhor para a frente, meto-me nela com a tontura do génio, e fico para trás de todas as outras filas porque na “minha” houve alguém que, ao conferir o troco, ou a carta registada que não aparece, etc.

Depois de tudo isto, de toda esta vida longa de deuses de costas voltadas, hoje, domingo, hoje Dezembro, hoje de tempo ruim e deprimente, com um telejornal que abre com 5 - cataclismos/assassinatos - 5 , toca o telefone e uma voz falando brasileiro me informa aqui o cara que sou vencedor de uma promoção dos telemóveis Optimus, pelo que devo, no prazo de meia hora, telefonar para o número tal e tal.

Estão a ver, não é? Já não tenho a Shéhérazade para me vingar. Isto não pode ser. Isto é um terrível e dramático engano. Os deuses já estão de frente para mim? Mas será? Foi o efeito da sonda que não aterrou ainda em Marte? Passeio pela casa, olho para o espelho, converso comigo e resolvo ir “aos apanhados”.

Ligo para o tal número e digo (passa a discurso directo):

– O senhor Silva disse para ligar para aí...

– Estamos a fazer uma promoção. O senhor vai receber um telemóvel Mitsubishi, sem encargos mensais e com cartão recarregável, como oferta da Optimus, desde que não tenha mais que 65 anos.

– Tenho.

– Então não recebe o telemóvel.

Percebi que a moça tinha ficado com pena. Deve ser uma moça gentil.

Afinal está tudo certo. Confere. A partir dos 65 estamos fora de prazo. Já não somos rentáveis numa campanha promocional. A agência ou o sublime director de marketing esquece que, ao marginalizar este grupo etário, está a marginalizar a maior fatia humana nacional e que, em termos de rentabilidade, não só o velho utiliza o tele, como o pode oferecer a familiares ou amigos, havendo sempre o retorno. Ele não sabe isso porque é novo e só leu nos livros e ainda não sabe ler na vida.

Claro que a sua atitude vem em complemento de tudo o resto, no que se refere à política nacional. Somos seres para abater, fora de prazo. Por isso nem desta vez a sorte me calhou. A sonda que aterre em Marte, de uma vez!

– Shéhérazade!!!!!!!!!
(In TempoLivre - Inatel)