Wednesday, June 24, 2009

MAPUTO, NOITE DE 9 DE OUTUBRO DE 1979

Naquela noite resolvemos confraternizar fazendo música. Ao piano, dando-nos esperança de se tocar com alma e afinco, Né Afonso ou Santana Afonso, que aos 18 anos já tocava numa boate na Beira, fugindo à Polícia dizendo-se maior de 21 anos. Ricardo Timane (infelizmente já não nos podemos encontrar) cantava o Summertime, de Gershwin, com a sua bela voz quente, afinada e bem colocada. (Como se fosse possível um negro desafinar!) No violão temos o Ricardo Rangel que, apesar de não ser músico, sabia dar-nos um baixo acertado e feliz. A harmónica bocal solava com emoção.
As fotos também servem para chorarmos sobre elas de saudade.

Thursday, June 18, 2009

16 de JUNHO


Da crónica de Luis Fernando Veríssimo, no ZeroHora, retiramos com a devida vénia este pedaço de prosa.



Anthony Burgess escreveu um livro sobre Joyce chamado ReJoyce. O trocadilho do título – que quer dizer, ao mesmo tempo, “referente a Joyce”, uma releitura de Joyce e “regozije-se com Joyce” – é uma homenagem ao autor que tornou o trocadilho literariamente respeitável. O livro de Joyce que se seguiu ao Ulisses, Finnegans Wake é um interminável - literalmente, pois não termina mesmo, a última frase do livro emenda na primeira – jogo de palavras no qual só deve se aventurar quem tem tempo, além de erudição ou um bom manual explicativo, como o de Burgess.

Tuesday, June 02, 2009


A JUSTIÇA EM PORTUGAL

Na minha caixa do correio apareceu este texto do senhor JOÃO MIGUEL TAVARES que, com a devida vénia, transcrevo.

"A justiça em Portugal parece-lhe confusa? Não faz ideia porque é que todos os processos que envolvem pessoas importantes acabam sempre em regabofe? Diga não à desorientação! Em apenas 20 passos, eis o guia ideal para entender todos os casos que em Portugal começam com a palavra "caso":
1) Os jornais publicam uma notícia sobre qualquer pessoa muito importante que alegadamente fez qualquer coisa muito má.
2) Essa pessoa muito importante considera-se vítima de perseguição por parte de forças ocultas.
3) Outras pessoas importantes vêm alertar para o vergonhoso desrespeito do segredo de justiça em Portugal, que possibilita a actuação de forças ocultas.
4) Inicia-se o debate sobre o segredo de justiça em Portugal.
5) Toda a gente tem opiniões firmes sobre o que é preciso mudar na legislação portuguesa para que estas coisas não aconteçam.
6) Toda a gente conclui que não se pode mudar a quente a legislação portuguesa.
7) A legislação portuguesa não chega a ser mudada para que estas coisas não aconteçam.
8) As coisas voltam a acontecer: os jornais publicam notícias sobre essa pessoa muito importante dizendo que ainda fez coisas piores do que as muito más.
9) Outras pessoas importantes vêm alertar para o vergonhoso jornalismo que se faz em Portugal, que nada investiga e se deixa manipular por forças ocultas.
10) Inicia-se o debate sobre o jornalismo português.
11) Toda a gente tem opiniões firmes sobre o que é preciso mudar no jornalismo português.
12) Toda a gente conclui que estas mudanças só estão a ser debatidas porque quem alegadamente fez uma coisa muito má é uma pessoa muito importante.
13) Nada muda no jornalismo português.
14) Enquanto o mecanismo se desenrola do ponto 1) ao ponto 13) a justiça continua a investigar. 15) Após um período de investigação suficientemente longo para que já ninguém se lembre do que se estava a investigar, a justiça finaliza as investigações e conclui que a pessoa muito importante: a) Não fez nada de muito mau. b) Já prescreveu o que quer que tenha feito de muito mau. c) É possível que tenha feito algo de muito mau mas não se reuniram provas suficientes. d) Afinal o que fez não era assim tão mau.
16) Pessoas importantes que são amigas dessa pessoa muito importante concluem que ela foi vítima de perseguição por parte de forças ocultas.
17) Pessoas importantes que não são amigas dessa pessoa muito importante concluem que em Portugal nada acontece às pessoas muito importantes que fazem coisas alegadamente muito más.
18) As pessoas citadas no ponto 17) iniciam mais um debate sobre a justiça em Portugal.
19) As pessoas citadas no ponto 16) iniciam mais um debate sobre o jornalismo em Portugal.
20) Os jornais publicam uma outra notícia sobre uma outra pessoa... etc, etc,