Thursday, October 04, 2007

O LENÇO

HISTÓRIA PARA SER LIDA ÀS CRIANÇAS, À NOITE, PARA ELAS ADORMECEREM MELHOR E RECONFORTADAS PELA BONDADE E JUSTIÇA HUMANAS, MAIS EFICAZ QUE UMA ORAÇÃO, UM COPO DE LEITE OU UMA MEZINHA.
PODE SER LIDA PELO PAI, PELA MÃE OU PELOS DOIS EM CONJUNTO, O QUE DARÁ MELHOR E MAIS PROFUNDO ENSINAMENTO SOBRE O AMOR ENTRE OS HOMENS DE BOA-VONTADE.


O pintor estava no Castelo de S. Jorge com a filha, tentando vender um quadro aos turistas que por ali pasmavam.
Ele tinha o direito a estar com a filha aos sábados e domingos, pois a ex-mulher ficara com a tutela alegando que ele era um desgraçado sem rendimentos fixos ou ambulantes. Ela era advogada e mexeu bem os cordeleis com os colegas e juízes e assim ficou com a miúda que agora, neste dia, tem cinco anos já prontos.
O pintor não sabe o que fazer à vida para a melhorar e para poder ficar com a miúda, pois gostam muito um do outro. E isso vê-se bem.
Ela trouxe um lencinho de cor vermelha que a mãe lhe pôs ao pescoço, pois já calculava que o pai não tinha lenço vermelho nem de qualquer outra cor e ali no Castelo há sempre um vento de leste, que também pode ser de oeste, e a miúda, para agradar ao seu amado pai, colocou o lenço vermelho sobre o canto esquerdo do quadro, num arranjo vistoso.
Um casal de pasmas com olhos azuis e cabelos amarelos apontou e o pintor disse dez contos. Eles que não com a cabeça e, por gestos, disseram que não era o quadro que lhes interessava mas o lenço. O pintor, com gestos, disse que o lenço era dele e que não, não, não era para vender, percebem? Que o quadro sim e que, abrindo os dedos da mão direita, poderia ser cinco contos, com a moldura. E os pasmados perguntam se vem o lenço também. O pintor diz que não, só a moldura. A menina já chora. Os pasmados, abanando a cabeça criticamente, vão-se embora olhando o rio lá em baixo.
O pintor não aguenta mais. Dá à miúda o lenço e um beijo.
E atira-se lá para baixo como qualquer sarraceno a fugir aos cristãos.

1 comment:

Anonymous said...

Glup, como diria a Milu.