Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.** *
* *
*JOSÉ RÉGIO* Soneto escrito em 1969
Thursday, September 30, 2010
Tuesday, September 14, 2010
MAIS UM JORNAL EM PAPEL DESAPARECE
No dia 1 deste mês, acabou no seu formato em papel, o velhinho “Jornal do Brasil”, fundado em 1891, continuando a sua existência na internet como “JB online”.
A administração justifica assim a sua decisão:
“Os custos económicos e ambientais do papel são insustentáveis. Mais que isso, são desnecessários. A cada dia em que um jornal como o “JB” é impresso em papel, 72 árvores deixam de ser cortadas. Uma única edição de domingo corresponde a cerca de 200 árvores que levam anos para crescer e ocupam 40 mil m2 de floresta. Isto equivale a quatro campos e meio de futebol. Em um ano, com a versão digital, são preservadas áreas florestais correspondentes a mais de 1200 Maracanãs.”
É uma boa notícia para os madeireiros clandestinos da Amazónia; ficam com mais madeira para roubar.
A administração justifica assim a sua decisão:
“Os custos económicos e ambientais do papel são insustentáveis. Mais que isso, são desnecessários. A cada dia em que um jornal como o “JB” é impresso em papel, 72 árvores deixam de ser cortadas. Uma única edição de domingo corresponde a cerca de 200 árvores que levam anos para crescer e ocupam 40 mil m2 de floresta. Isto equivale a quatro campos e meio de futebol. Em um ano, com a versão digital, são preservadas áreas florestais correspondentes a mais de 1200 Maracanãs.”
É uma boa notícia para os madeireiros clandestinos da Amazónia; ficam com mais madeira para roubar.
Thursday, September 09, 2010
MOÇAMBIQUE, 7 DE SETEMBRO, DIA DA VITÓRIA
Quando da tomada de posse do governo de transição, em 7 de Setembro de 1974, o então presidente da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Samora Moisés Machel, fez um discurso do qual recordo as seguintes passagens:
“(...) Queremos chamar atenção ainda sobre um aspecto fundamental: a necessidade de os dirigentes viverem de acordo com a política da Frelimo, a exigência de no seu comportamento representarem os sacrifícios consentidos pelas massas. O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores. A corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as cunhas, o nepotismo, isto é, os favores na base de amizade, e em particular dar preferência nos empregos aos seus familiares, amigos ou a gente da sua região fazem parte do sistema de vida que estamos a destruir. O tribalismo, o regionalismo, o racismo, as alianças sem princípios constituem atentados graves contra a nossa linha e dividem as massas. Porque o poder pertence ao povo, quem o exerce é servidor do povo. Quem desviar assim a nossa linha não encontrara qualquer tolerância da nossa parte. Seremos intransigentes nesta questão, como o fomos durante os duros anos de guerra. Não hesitaremos nunca em expor perante as massas as acções cometidas contra elas. Os desvios da linha suscitam as contradições, as brechas por onde penetra o inimigo, o imperialismo e as forças reaccionárias. Para que se mantenha a austeridade necessária a nossa vida de militante e assim se guarde no sentido do povo e dos seus sacrifícios, todos os militantes da Frelimo que receberam tarefas de governação do Estado tal como no passado deve renunciar às preocupações materiais, nomeadamente aos vencimentos. É evidente que por maioria de razão não se pode tolerar que um representante nosso possua meios de produção ou explore o trabalho de outrem. Combatemos durante dez anos sem qualquer preocupação de ordem financeira individual, empenhados apenas em consagrar toda a nossa energia ao serviço do povo. Está é a característica do militante, do quadro, dos dirigentes da Frelimo. Como o fizemos sempre, de acordo com as nossas possibilidades, procuramos assegurar ao militante que cumpra uma tarefa, o mínimo de condições materiais indispensáveis ao seu trabalho, ao seu sustento e da sua família. Mas também não nos devemos esquecer que muitas vezes combatemos e vencemos descalços, esfarrapados e com fome. Sublinhamos ainda que, assim como fizemos guerra sem horário de trabalho, sem dias de descanso, nos devemos empenhar com o mesmo espírito na batalha da reconstrução nacional”.
É evidente que este homem tinha de ser abatido.
“(...) Queremos chamar atenção ainda sobre um aspecto fundamental: a necessidade de os dirigentes viverem de acordo com a política da Frelimo, a exigência de no seu comportamento representarem os sacrifícios consentidos pelas massas. O poder, as facilidades que rodeiam os governantes podem corromper o homem mais firme. Por isso queremos que vivam modestamente com o povo, não façam da tarefa recebida um privilégio e um meio de acumular bens ou distribuir favores. A corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as cunhas, o nepotismo, isto é, os favores na base de amizade, e em particular dar preferência nos empregos aos seus familiares, amigos ou a gente da sua região fazem parte do sistema de vida que estamos a destruir. O tribalismo, o regionalismo, o racismo, as alianças sem princípios constituem atentados graves contra a nossa linha e dividem as massas. Porque o poder pertence ao povo, quem o exerce é servidor do povo. Quem desviar assim a nossa linha não encontrara qualquer tolerância da nossa parte. Seremos intransigentes nesta questão, como o fomos durante os duros anos de guerra. Não hesitaremos nunca em expor perante as massas as acções cometidas contra elas. Os desvios da linha suscitam as contradições, as brechas por onde penetra o inimigo, o imperialismo e as forças reaccionárias. Para que se mantenha a austeridade necessária a nossa vida de militante e assim se guarde no sentido do povo e dos seus sacrifícios, todos os militantes da Frelimo que receberam tarefas de governação do Estado tal como no passado deve renunciar às preocupações materiais, nomeadamente aos vencimentos. É evidente que por maioria de razão não se pode tolerar que um representante nosso possua meios de produção ou explore o trabalho de outrem. Combatemos durante dez anos sem qualquer preocupação de ordem financeira individual, empenhados apenas em consagrar toda a nossa energia ao serviço do povo. Está é a característica do militante, do quadro, dos dirigentes da Frelimo. Como o fizemos sempre, de acordo com as nossas possibilidades, procuramos assegurar ao militante que cumpra uma tarefa, o mínimo de condições materiais indispensáveis ao seu trabalho, ao seu sustento e da sua família. Mas também não nos devemos esquecer que muitas vezes combatemos e vencemos descalços, esfarrapados e com fome. Sublinhamos ainda que, assim como fizemos guerra sem horário de trabalho, sem dias de descanso, nos devemos empenhar com o mesmo espírito na batalha da reconstrução nacional”.
É evidente que este homem tinha de ser abatido.
Thursday, September 02, 2010
NOTICIÁRIOS da RDP
Oiço normalmente os noticiários das 9:00, 10:00, 23:00 e 24:00. São usualmente 3 notícias, mais uns incêndios e agora o “caso Queiroz”. É ao que eu chamo “os serviços mínimos”. São notícias estilo "funcionário público desiludido e sem esperança, a cumprir horário".
Ainda não há muitos anos havia noticiários principais e noticiários intercalares. Os noticiários das 13:00, das 20:00 e das 24:00 eram amplos noticiários, alguns chegando aos 40 minutos de duração. Depois havia os intercalares, resumos dos acontecimentos. Neste momento todos me parecem sempre “resumos dos acontecimentos”.
Julgo ter havido um enorme erro de análise por parte da RDP, aquando o advento da “tv-espectáculo” – que criou raízes e fervorosos adeptos, adoptando uma postura de vencido. Como já passámos da era do digital para a era da imagem, pegou e fez carreira o pensamento de que uma imagem vale milhares de palavras, o que é uma rematada estupidez. Para quem não gosta de escrever e de ler, uma imagem chega-lhe plenamente. Os noticiaristas radiofónicos abdicaram dos seus altos serviços e ficaram complexados. Sem razão. A Rádio é o órgão que mais desenvolve a imaginação. A sonoplastia radiofónica ajuda a desenvolver o intelecto. Quando em Rádio digo que está um tempo maravilhoso e que ao longe vejo o mar, o ouvinte terá que recriar o cenário desenvolvendo-o imaginativamente. Em Televisão não é necessário desenvolver seja o que for: está lá a foto do dia com o mar ao longe. Para quê pensar? A foto documenta a imagem mas, se não for a palavra, como ficaremos a saber de tudo o resto? Os cheiros, o vento, a magia do lugar, o que se espera dele, etc., etc. Nesta nova sociedade “come-depressa-não-te-prendas-aos-problemas” e prefere o prato do dia que é mais rápido, uma imagem resolve tudo. Mas longe vai o tempo de Mattelart manguitando-se para Gutenberg. E a Televisão quase conseguiu matar o velho dos tipos móveis… com alguma ajuda dos povos menos cultos, verdade se diga.
Ainda não há muitos anos havia noticiários principais e noticiários intercalares. Os noticiários das 13:00, das 20:00 e das 24:00 eram amplos noticiários, alguns chegando aos 40 minutos de duração. Depois havia os intercalares, resumos dos acontecimentos. Neste momento todos me parecem sempre “resumos dos acontecimentos”.
Julgo ter havido um enorme erro de análise por parte da RDP, aquando o advento da “tv-espectáculo” – que criou raízes e fervorosos adeptos, adoptando uma postura de vencido. Como já passámos da era do digital para a era da imagem, pegou e fez carreira o pensamento de que uma imagem vale milhares de palavras, o que é uma rematada estupidez. Para quem não gosta de escrever e de ler, uma imagem chega-lhe plenamente. Os noticiaristas radiofónicos abdicaram dos seus altos serviços e ficaram complexados. Sem razão. A Rádio é o órgão que mais desenvolve a imaginação. A sonoplastia radiofónica ajuda a desenvolver o intelecto. Quando em Rádio digo que está um tempo maravilhoso e que ao longe vejo o mar, o ouvinte terá que recriar o cenário desenvolvendo-o imaginativamente. Em Televisão não é necessário desenvolver seja o que for: está lá a foto do dia com o mar ao longe. Para quê pensar? A foto documenta a imagem mas, se não for a palavra, como ficaremos a saber de tudo o resto? Os cheiros, o vento, a magia do lugar, o que se espera dele, etc., etc. Nesta nova sociedade “come-depressa-não-te-prendas-aos-problemas” e prefere o prato do dia que é mais rápido, uma imagem resolve tudo. Mas longe vai o tempo de Mattelart manguitando-se para Gutenberg. E a Televisão quase conseguiu matar o velho dos tipos móveis… com alguma ajuda dos povos menos cultos, verdade se diga.
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