Thursday, September 02, 2010

NOTICIÁRIOS da RDP

Oiço normalmente os noticiários das 9:00, 10:00, 23:00 e 24:00. São usualmente 3 notícias, mais uns incêndios e agora o “caso Queiroz”. É ao que eu chamo “os serviços mínimos”. São notícias estilo "funcionário público desiludido e sem esperança, a cumprir horário".
Ainda não há muitos anos havia noticiários principais e noticiários intercalares. Os noticiários das 13:00, das 20:00 e das 24:00 eram amplos noticiários, alguns chegando aos 40 minutos de duração. Depois havia os intercalares, resumos dos acontecimentos. Neste momento todos me parecem sempre “resumos dos acontecimentos”.
Julgo ter havido um enorme erro de análise por parte da RDP, aquando o advento da “tv-espectáculo” – que criou raízes e fervorosos adeptos, adoptando uma postura de vencido. Como já passámos da era do digital para a era da imagem, pegou e fez carreira o pensamento de que uma imagem vale milhares de palavras, o que é uma rematada estupidez. Para quem não gosta de escrever e de ler, uma imagem chega-lhe plenamente. Os noticiaristas radiofónicos abdicaram dos seus altos serviços e ficaram complexados. Sem razão. A Rádio é o órgão que mais desenvolve a imaginação. A sonoplastia radiofónica ajuda a desenvolver o intelecto. Quando em Rádio digo que está um tempo maravilhoso e que ao longe vejo o mar, o ouvinte terá que recriar o cenário desenvolvendo-o imaginativamente. Em Televisão não é necessário desenvolver seja o que for: está lá a foto do dia com o mar ao longe. Para quê pensar? A foto documenta a imagem mas, se não for a palavra, como ficaremos a saber de tudo o resto? Os cheiros, o vento, a magia do lugar, o que se espera dele, etc., etc. Nesta nova sociedade “come-depressa-não-te-prendas-aos-problemas” e prefere o prato do dia que é mais rápido, uma imagem resolve tudo. Mas longe vai o tempo de Mattelart manguitando-se para Gutenberg. E a Televisão quase conseguiu matar o velho dos tipos móveis… com alguma ajuda dos povos menos cultos, verdade se diga.

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