Tuesday, November 30, 2010

SOBRE A VÍRGULA

Muito bonita a campanha dos 100 anos da ABI
(Associação Brasileira de Imprensa).

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere..

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.
Pode criar heróis..
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar.
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da
sua informação.



Detalhes Adicionais:
COLOQUE UMA VÍRGULA NA SEGUINTE FRASE:

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE
QUATRO À SUA PROCURA.

Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER...
Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.

Monday, November 22, 2010

UM RAPAZ DE ESQUERDA

O Joaquim veio do Norte para estudar na universidade em Lisboa. Como era um burguês de poucos recursos, conseguiu ficar num quarto com um conhecido, o César, moço calado e, a maior parte do tempo, ausente. Raramente se viam. O César passava às vezes semanas sem aparecer. Dizia que estudava pelos cafés, mas o Joaquim nunca se encontrou com ele.

Um dia, o César disse ao Joaquim, numa manhã fria de Inverno:
- Olha, tenho de me ausentar por dois, o máximo três dias. Se eu não aparecer nesse prazo de tempo, pegas nesta pasta e deita-a fora. No lixo ou no mar.
E saiu sem mais explicações nem qualquer despedida especial. Viviam há três meses naquele quarto e pouco sabiam um do outro; eram dois autênticos estranhos. O César delicadamente impunha este regime de pouca aproximação. Era esse o seu feitio, pensava o Joaquim.

Precisamente no dia seguinte, ou melhor, na madrugada seguinte, o quarto foi invadido por três agentes da PIDE que revolveram tudo, as malas, os papéis, a roupa e, obviamente, levaram o Joaquim preso. Ele chorava e afirmava que a pasta não era dele mas, a cada nova bofetada, afirmava-o com menos ênfase.

Ficou uns oito dias a chorar e a levar bofetadas até que os esbirros acreditaram que ele nada sabia, que era um ignorante total, e que nem conhecia os exemplares do Avante que enchiam a pasta. E que a pasta nem era dele, era do colega de quarto que se chamava Joaquim. Mas nem no nome do colega acertava, pois o rapaz não se chamava Joaquim, como o informou à bofetada, um agente da PIDE.

Lá saiu com a ficha feita, arranjou outro quarto e continuou a estudar, que foi para isso que veio para a capital. Para estudar e para subir na vida.Mas precisava de dinheiro; o que o pai funcionário público mandava não chegava para nada. Por estreitas portas e ínvias travessas consegue uma entrevista recomendada com o dono de uma agência publicitária que só empregava pessoas, de preferência, de esquerda ou saídas da prisão.
- Então você deixa os Avates dentro da pasta debaixo da cama?!
- Pois foi. Um lapso que me saiu muito caro e à minha rede. (Já sabia o que era uma rede.)
Ao fim de dois anos de agência, um grande jornal em formação precisava de um chefe de publicidade. Correu todo o mercado até que se encontrou com o Joaquim. A administração precisava de um profissional com o rótulo de esquerda e o Joaquim vinha mesmo a calhar.

E ainda hoje, passados já vários anos, o Joaquim continua a ser um indivíduo apelidado de esquerda. Do César nunca soube nada de nada.