Friday, July 13, 2007

SINPSE

Há meia dúzia de anos enviámos para a RTP este exemplo de
uma série de 24 programas, que considerámos económico, sob
o ponto de vista de produão, para além de ser didáctico e
divertido. A resposta foi não.
Curiosamente no ano passado foi apresentada uma série na
RTP idêntica a esta. Apenas os apontamentos históricos eram
substituídos por canções. Vejam lá se gostam. Comentem.

EXEMPLO


Pivô:
Neste ano da Graça de 1781, realçamos hoje a
incorporação dos novos mancebos nalguns
quartéis portugueses. A nossa reportagem
esteve no Regimento de Setúbal,
onde assentaram praça 238 jovens, com
muita vontade de defender a Pátria. Os portões
do Regimento só fecharam à meia-noite,
sendo o último a apresentar-se à porta de
armas um mancebo nascido nesta cidade,
de nome Manuel Maria Barbosa du Bocage.

Entrevista com Bocage, de melenas e mal-amanhado.
Vive na terra, mas foi o último a chegar porque acordou tarde...


Pivô:
Estão a realizar-se em Leicester, Inglaterra, as experiências
do primeiro tear mecânico, um invento de um senhor chamado
Cartwrite. Sobre este assunto trouxemos aos nossos estúdios o
senhor Manuel da Silva, dos arredores do Porto, que possui cerca
de 25 teares manuais.
Planos do sr. Silva

Pivô: Sr. Silva. Já tinha ouvido falar deste tear mecânico?
Silva: Não senhor.
Pivô:Então não sabe se vai dar resultado?
Silva: Acho que não. Mecânico como? Com um animal a dar
a dar, como a puxar água à nora? À volta do poço? E a
escrementar o chão por onde passa?! Ná!
Pivô: É mecânico, senhor Silva. Com motor.
Silva: Com motor?! Motor de vapor?! Isso não dá nada.
Os teares são trabalhados à mão desde os tempos dos meus
avós e vão continuar a ser trabalhados à mão. Isso são coisas
dos estrangeiros para enlorpar a gente. Ná! Só vendo e,
mesmo assim...
Pivô: O senhor Silva não gostaria de apanhar um barco e ir a
Inglaterra assistir a uma demonstração?
Silva: Eu nã senhor! Isso é tudo conversa e além do mais, enjoo
no mar, caragos!
Pivô: Muito obrigado senhor Manuel da Silva pelas suas
preclaras opiniões.

E, em continuação do nosso telejornal, damos hoje conta do
estrondoso êxito, em Munique, da ópera séria do senhor
Amadeus Mozart, intitulada AIdomeneo.

Imagens do filme Amadeus
Pivô: Mais um êxito do senhor Mozart.
Pois bem distante de Munique, em Slough, Inglaterra, o senhor
Herschel, William Herschel, da sua varanda já descobriu várias
estrelas. Agora vai anunciar oficialmente a sua mais recente
descoberta, um planeta a que foi dado o nome de Urânio.
Para comentar este fantástico feito, temos em estúdio o
nosso comentador científico, Professor Calisto. (1)
Imagens do Hubble.
Pivô: Então o que nos diz deste novo planeta?
Calisto: Bem...O senhor Herschel é um homem curioso.
Quando não toca música, observa os astros. Já construiu
dois telescópios: um de 20 e outro de 40 pés com reflector!
Pivô: É evidente que houve aqui uma falha técnica. Mas...
o professor conhece o nosso homem?
Calisto: Claro que conheço. Já nos encontrámos duas vezes
e devo dizer-lhe, estimado senhor, que tenho boa impressão
acerca do homem.
Pivô: Então acha que realmente o planeta existe?
Calisto: Existe, existe, mas não como ele o descreve.
A luneta de 40 pés com reflector é algo de fenomenal.
Julgo que nada de mais avançado o homem poderá um dia
vir a construir.
Pivô: Pois muito obrigado, senhor professor.
Pradarias e cavalos a desfilada.
Marcha do Filipe de Souza.
Pivô: Os pioneiros da América do Norte continuam a sua
gloriosa caminhada, empurrando os selvagens dos índios para
Oeste e já se encontram a poucos quilómetros das Montanhas
Apalaches. As imagens acabaram de nos chegar, contando
apresentá-las até ao final deste telejornal.
Estão a fazer-me sinal de que a reportagem já está pronta.

Índios a levar porrada e tiros
(O Forte Apache?)

Pivô: Da América chega-nos também a notícia de que Lorde
Cornwallis, com cerca de 14 mil homens, consolida posições
na Virgínia. Os nossos correspondentes desconhecem ainda
que decisões militares irá tomar o senhor George Washington
o qual, segundo o ponto de vista de vários observadores
portugueses, não tem quaisquer hipóteses quer políticas,
quer militares.
Foto de G. Washington
Pivô: E passemos ao desporto.

Pivô: Acaba de ser constituído por vários lordes ingleses,
o primeiro clube de cricket, o White Conduit Cricket, que
se instala nos campos verdejantes de Islington. Enfim, cada
povo com o seu cricket.

Marcha e imagens de cricket.
Fotos de Lordes ingleses.
E suas famílias e... cães.


Pivô: Está a levantar uma certa celeuma a sistemática
apreensão de livros provenientes de França, principalmente
dos enciclopedistas, por parte de Diogo Inácio Pina Manique.
Após inúmeras tentativas, o Intendente-Geral da Polícia
aceitou prestar declarações ao nosso telejornal, sobre este e
outros assuntos.


Reportagem

(Cenário: Gabinete barroco. Dois guardas, de grandes bigodes
e ar alorpado, de sabre, estão estáticos ao lado de Pina Manique.
Este está sentado com ar bélico, conflituoso.)
Entrevistador: Tenha Vossa Excelência muito boas-noites.
P.M.: Hum...
Entrev.: Caso Vossa Excelência ache bem, gostaríamos,
em primeiro lugar, de lhe perguntar se o ensaio de porrada que
deu nos estudantes da Academia, se justificava.
P.M.: Os meus homens cumprem sempre o seu dever!
Entrev.: Consta que Vossa Excelência está muito preocupado
com a invasão e a força da Maçonaria.
P.M.: Pfiuu!!! Meia dúzia de cobardolas. A maioria já está na
Cadeia do Aljube. Além disso, ideias estrangeiras em Portugal,
morrem todas na fronteira. Já se sabe.
Entrev.: Mas há quem diga, Excelência, que a Maçonaria tem
pessoas muito importantes nas suas fileiras, até, talvez,
Pares do Reino.
P.M.: As pessoas muito importantes também vão para a prisão.
(Com ar ameaçador) Ou não?
Entrev.: Vão, vão! Mas quanto aos livros dos Enciclopedistas?
P.M.: Todos queimados! Hereges! Ateus! Assim que chegam
às fronteiras do Reino, são logo apreendidos. A Polícia aqui do
lado é que não está a ajudar muito. Mas esses Enciclopedistas
são uma cambada que só perturba a turba.
Entrev.:Turba?
P.M.: Sim, a malta: Não entra cá nada! A minha Polícia
apreende tudo na fronteira e acabou-se! Lareira. Braseira. Lixo.
Entrev.: E Sua Majestade concorda?
P.M.: Sua Majestade (levanta-se) sabe quem eu sou. (Senta-se.)
Entrev.: Quer dizer Vossa Excelência que Sua Majestade concorda.
P.M.: Sua Majestade (levanta-se) sabe quem eu sou. (Senta-se.)
Entrev.: Quer então dizer que Sua Majestade concorda.
P.M.: Sua Majestade (levanta-se) sabe quem eu sou(senta-se.)
Entrev.: Pronto. Já percebi. Agora outra pergunta. Vossa
Excelência acha que é bom para a turba este tipo de entrevistas?
P.M.: Não!!! A turba, para ser feliz, deve manter-se ignorante de
todos os conflitos. E mais: se você volta a aparecer aqui,
com essas geringonças sinistras, vai ver o sol aos
quadradinhos. Percebeu?
Entrev.: Sim, Excelência.

Pivô.: Eis o trabalho feito pelo nosso repórter ao Intendente-Geral
da Polícia, Pina Manique. Onças de tabaco e livros de mortalhas
podem ser-lhe enviados para a cadeia do Aljube. Palavras de
carinho também. Mas anónimas.

E, a terminar, e como é hábito, vamos dar as novas cotações das
moedas para Portugal e para a colónia do Brasil.

Quadros. Voz off
Moeda de conta:
Conto de réis... 2.500 Cruzados 1 milhão de réis
Mil Cruzados... 400 mil réis
Dobra ou dobrão... 12.000 réis
Cruzado.... 400 réis

Moedas de cobre:
4 vinténs... 80 réis
2 vinténs ... 40 réis
1 vintém... 20 réis
2 vintém... 10 réis
1/4 vintém... 5 réis

Moedas de prata:
3 patacas... 960 réis
2 patacas... 640 réis
Pataca... 320 réis
2 vintém... 10 réis
4 vinténs... 80 réis
6 tostões... 600 réis

Pivô: E com esta informação cambial, termina o
nosso telejornal de hoje.



(1) Há em Portugal e por certo também no Brasil, comentadores

de TV que sabem de tudo e de tudo dão opinião. Poderá
fazer-se a caricatura desse personagem.

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