Friday, March 20, 2009

CÃES A ENLOUQUECER

Consegue imaginar o que é viver e trabalhar num largo de Lisboa (Conde Ottolini, em Benfica), onde vários cães ladram de manhã à noite? Quando o número diminui, fica sempre um a marcar a presença. Está de piquete.
Ao fim destes anos todos, concluí que se trata de um acordo entre eles como vingança pelo mal que os homens lhes fazem. Então, ladram. Muito. Das varandas para os que vão no jardim(?). Os do jardim(?) para os que estão nas varandas. Alguns, com mais personalidade, uivam. E há a grande confusão dos donos. Os animais não são domésticos; são domesticados. Eram primitivamente selvagens e o homem domesticou-os (algumas raças). O que não lhe permite levá-los para dentro de um apartamento em plena cidade e deixá-los na varanda, pedindo-lhes que se imaginem no campo, numa quinta, numa floresta ou pinhal. Mas ainda afirmam que amam os animais quando, afinal, lhes estão a roubar o seu habitat, impondo-lhes condições degradantes até para um cão. Alguns, da maneira como nos olham e se movimentam, devem já estar meio-loucos. Talvez em mutação.
Há então um, já desesperado que, mal se vê no largo, corre para uma pedra que baliza os jogos dos rapazes e lhe ladra para debaixo, cheirando, ladrando, raspando, fungando, fingindo que ali está uma entrada de furão ou de coelho. É a maneira que o bicho encontrou de não enlouquecer de todo.
Agora o leitor junta a este regabofe canino (diário e desde a manhã até às 22 horas), os dejectos por todo o lado e os tiros, também de manhã à noite, num clube de tiro aos pratos, em Monsanto (zona de protecção ecológica).
Às vezes há crianças a brincar numa caixa de areia onde os cães urinam e defecam. Às vezes lancham sem lavar as mãos.
Consegue imaginar?

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