Monday, August 23, 2010

O COISO ORTOGRÁFICO

Chamo-lhe assim pois não é um acordo. Acordo é quando concordamos em caminhar no mesmo sentido. No Brasil mais de metade da população desconhece o Coiso Ortográfico e, os que conhecem, não lhe ligam nenhuma. Aqui não sei. O que sei é que Portugal, ciclicamente, mete o pé na argola. Já cá tardava. Depois do embaixador Vasco Garin afirmar, nas Nações Unidas, que Portugal não concordava com o desarmamento mundial pois ninguém poderia afirmar que os ET’s não andavam por aí e, se ficássemos desarmados, só nos poderíamos defender com fisgas e facas de cozinha. O Mundo riu.
Esperava que a Ota fosse mais uma argolada da regência política portuguesa. Mas arrepiou-se caminho, provocando a barafunda (sururu para o Coiso Ortográfico – (CO)) que todos conhecemos.
Mas falta-nos falar da fiscalização (de que Portugal não gosta nada – veja-se o caso do Banco de Portugal e do seu desgovernador) e das coimas (tão queridas aos legisladores portugueses).
Para a fiscalização, deverá constituir-se um gabinete, de sete membros, em cujas primeiras reuniões elegerá o respectivo presidente. Depois encarregar-se-á dos Estatutos, da CP (campanha de publicidade, que esperará paciente a dotação da verba), e a selecção dos fiscais, que deve recair não nos professores de Português, mas sim nos revisores das editoras (cuidado com as meninas licenciadas em Letras).
Depois, o gabinete fará uma hierarquia de faltas ao CO. Atendendo a que o “Dicionário de Língua Portuguesa Contemporânea”, da Academia das Ciências, levou 18 anos a ser concebido, a tabela das faltas deverá demorar uma década e, entretanto, cada um vai escrevendo como lhe apetece, sabe ou dá mais jeito. Eu já estou a escrever fimdesemana sem hífenes, que são, como todos sabem, um atraso de vida e fakto com kapa para indispor os brasileiros (minha ex-mulher é brasileira).
As coimas poderão ser de duas espécies: primeira – obrigar o faltoso a escrever 100 vezes a palavra segundo o CO, numa escola de Instrução Primária da área do malandro, aos sábados e a horas marcadas pela direcção escolar. Todas as crianças da escola assistem, de pé, cantando o Hino Nacional. Alguns residentes brasileiros serão convidados para cantar, em seguida, o Hino Nacional brasileiro. Se o prevaricador for director de um Órgão de Comunicação Social, oferecerá, no final, um churrasco a toda a galera (ver Aurélio ou Houaiss); segunda – o malandrim é obrigado a saber de cor, no prazo de 30 dias, todas as alíneas do Coiso Ortográfico e as biografias de Vasco Pulido Valente e de João Ubaldo Ribeiro. Ficará sem registo da falta na Polícia e no SEF, se recitar ainda um poema de Luiz Pacheco, no programa da RTP-2 “Câmara Clara”.

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