Thursday, February 14, 2008

SÃO TÃO BONITOS OS POBREZINHOS!

Do "Jornal do Fundão" de 7 deste mês, transcrevemos a crónica do seu director, Fernando Paulouro Neves.


NA TARDE da última sexta-feira, frente à sede do Millemium BCP, havia um estranho jogo de roda, com cartazes e palavras de ordem. Eram figuras de smoking e cartola, numa “cegada” de solidariedade aos “capitalistas oprimidos”. A acção tinha a assinatura dos jovens do Bloco de Esquerda e os sorrisos dos passantes eram sinais de assentimento à carnavalização da política e às negociatas fabulosas de que “A Visão” dava conta na última edição. Que outra coisa poderemos fazer senão chorar!
Eram vozes condoídas, um coro de protesto, palavras ao vento contra essa grave injustiça do senhor Jardim Gonçalves ter embolçado 28 a 30 milhões de euros de bónus e prémio de fim de carreira, mais 100 mil euros mês de reforma, carro e motorista, e, já agora, viagens de avião, equipa de seguranças (mínimo 10). Mas logo o chorinho comove quando vem à baila o caso do senhor Paulo Teixeira Pinto ter saído do BCP com uma indemnização de 10 milhões de euros e mais a reforma vitalícia (14 meses) de mais trinta e sete mil e quinhentos euros. Coitadinho! Choremos todos pelas dificuldades de sua excelência. E que dizer do senhor Miguel Horta e Costa que ganhou cerca de 2,4 milhões de euros por não renovar o mandato na PT ou de Miguel Cadilhe que também levou 1,75 milhões de euros, de compensação por ter saído do BCP embolsando ainda mais 25 a 30 mil euros por mês de reforma! Havia uma expressão que antigamente se dizia para retratar estas situações: é fartar, vilanagem! Mas num país tão brando de costumes, que aceita todas as cangas e escandaleiras, ainda por cima com aquela filosofiazinha amoral que se compraz na exclamação: os gajos são espertos!, para que outra coisa podem servir estes casos de proveito e exemplo senão para uma boa carnavalada!
Há quem lhe chame país catita, ou choldra. Mas não deixa de ser estranho que ainda nos venham dizer que estes sujeitos (alguns metidos em grossas trapalhadas) são melhor pagos – muito melhor! – do que os congéneres na Alemanha... Que dizer desta imoralidade quando todos (ou quase todos) sabemos que vivem por aí, numa sombra conveniente ao poder, dois milhões de pobres e que todos os dias cresce o número de novos e velhos que se acercam dos caixotes do lixo na vaga esperança de encontrarem qualquer coisa para matar a fome!
Fernando Paulouro Neves

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