Saturday, April 15, 2006

37. O caso da mulher com um olho de vidro (final)

18.

Com as persianas devidamente ajustada, o sol entrava
suavemente pelo quarto de Bronco Vale, no St. James
Hospital. O mesmo hospital. O mesmo quarto.
Na cadeira habitual, a sra. Marlowee vigiava as
reacções do detective. Ele estava, nesse momento,
a sair de uma calma sesta.
- Como se sente?
- Melhor... fisicamente.
- Correu tudo bem, Bronco. O dr. Kildaire diz que são
dez dias para convalescer e recuperar.
- Correu tudo mal, Linda.
- Não percebo. O que é que correu mal, para além do
tiro?
Bronco Vale pensou. Pensou devagar. Talvez, nesse
momento, fosse um verdadeiro homem.
- Sou realmente um puto pouco esperto, como disse
o Chefe O'Hara. E, os pouco espertos, putos ou não,
é que decidem sobre a vida dos outros.
- Calma, Bronco.
- Pois claro, Linda. Calma.
- Chegou a ler os jornais?
- Sim, A enfermeira teve a atenção de me trazer dois.
Maureen, aliás Lys Anderson, explodiu no carro
celular, a caminho da prisão. No dia seguinte foi a vez
de Boyle. Eu... eu vou ser condecorado.
- Não se canse, Bronco.
- Rockfeller continua apanhado da cabeça. Tem um
problema de pituitária, tudo lhe cheira mal. Ficou com
a pituitária destruída... parece.
Silêncio. Linda, por hábito, ajeita a saia sobre os
joelhos.
- Ficámos sós, Bronco.
- Para quê? Para que o puto pouco esperto volte a
matar amigos que querem ser felizes?
Como sempre, Linda só compreendia o que lhe
convinha.
- Deixe essa profissão, Bronco. Deixe de ser detective
e de defender uma personalidade que não corresponde
verdadeiramente à sua.
E, com determinação, levanta-se, curva-se sobre a
cama e beija-o ternamente na boca. O beijo de uma
mulher para um homem. Um beijo adulto, um pouco
sôfrego, talvez.
- Porra! - exclamou da porta o dr. Kildaire, voltando
a fechá-la apressadamente.
(Final da novela de Ed. B. Silverman)

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