Monday, December 31, 2007

ALENTEJO SEM FIM

Mão amiga ofereceu-me “Alentejo sem Fim”, livro de contos de João Luís Nabo.
Se outro mérito não tivesse, este livrinho fez-me recordar dois bons amigos já na outra margem do rio: Antunes da Silva e Manuel da Fonseca.
O livro foi de estreia (2004) e não conheço mais nada do escritor. Ele foi-me oferecido pelo título, pois que troquei, com grande felicidade, décadas de cidade por um pequeno monte alentejano equidistante de Évora e de Montemor.
Os contos (editados pela Editorial Tágide):
Certa estrutura de alguns contos fazem-me lembrar O.Henri – e isto é positivo. O conto “As Botas de Cristal” é bonito e, por isso, falso. Lastimo (e possivelmente o autor também) que tudo nele seja mentira: o mestre sapateiro chamado Celestino, o professor Abílio, o padre Elias e até os dois miúdos não existem na vida real. Infelizmente.
“A Aposta” tem um enredo que, há cerca de 20 anos, meu pai me contou. Passava-se, na sua versão, com um estudante de Coimbra, ficando a capa presa pelo prego na porta da igreja. Não tem mal algum. Antes João Luís Nabo dar-lhe letra de forma e estrutura escorreita (como está) do que andar como estorinha pelas bocas do mundo a entreter serões bocejantes nas salas de estar.
Se me fosse dada a missão de escolher, entre eles, um único para concurso literário, não hesitava n’ “O Funeral de Dona Capitolina”, pelo tema e pela forma cuidada com que está desenvolvido. Um bom conto.
Uma boa short story é “O Diário”. Talvez o final contrapontista do autor fosse desnecessário, por demasiados lugares comuns.Talvez.
É, pois, um livro que se lê com muito agrado. Gostava de ler mais obras do autor. Tenho sempre medo de obras únicas promissoras, como “Nós matámos o cão tinhoso”, de Luís Bernardo Honwana.
A capa. É verdade, a capa.
Parece-me que a janela tem caixilharia em alumínio anodizado. Será?
Se é realmente alumínio, então o livro poderia chamar-se “Alentejo com fim à vista”.

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