Friday, January 20, 2006
7. O caso da mulher com um olho de vidro (cont.)
3.
Estava o Inspector-Chefe Rockfeller
limpando cuidadosamente o nariz com o
mindinho da mão esquerda, quando o
avisam pelo telefone, que o detective
particular Tell desejava falar-lhe.
- Mande entrar essa besta - ordenou
gentilmente.
Guilherme Tell entrou, sentou-se,
cruzou uma perna sobre a outra e acendeu
um cigarro. Tudo calmamente. Cuidadosamente.
- Guilherme Tell... que nome! - Rosnou o Inspector Rockfeller.
- Que quer, amigo Tim. O meu pai gostava muito de música...
- Bem... Uma coisa é positiva: você teve um pai e, pelos vistos,
conheceu-o! Mas, o que quer daqui?!
Tell ia a afagar o bigode quando se recordou que o tinha rapado no
mês anterior.
Rockfeller estava óptimo. Na noite anterior tinha visto na televisão
uma série policial e gostara do estilo do inspector televisivo. Estava
agora a tentar copiar a sua dureza, a sua agressividade.
- Recebi uma chamada telefónica de uma mulher que diz ter um olho
de vidro.
- Coitadinha...
- Pois...
E Tell, já nervoso, continuou:
- Disse apenas que a segunda pessoa que rebentaria seria eu.
- Óptimo! Óptimo! Até que enfim! Deus é grande! E justiceiro...
Aleluia!
E Tell magoado:
- Custa-me ver como os velhos amigos me tratam...
- "Velho amigo" era o seu tio! Pronto! Já me deu o recado. Agora
pire-se, que tenho mais que fazer.
- E eu?!
- Você, Tell? Vá actualizar o seguro de vida e reservar espaço na
"Colina da Saudade"... se sobrar alguma coisa de si.
Nessa noite Tell afogou as mágoas num cabaré italiano inqualificável,
dançando e bebendo com uma bela mulher, de trinta e tal anos, mas de
olhar um pouco fixo. Às seis da manhã do dia seguinte, em plena rua 43,
Guilherme Tell rebentava estrondosamente, sujando tudo.
Uma porcaria.
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