13. Naquela noite o canal 76 ("Este é o calibre 76. Carregue no telecomando e mate a sua vizinha"), tinha anunciado uma nova série, escrita por Ed McBain e passada numa esquadra de polícia, com um detective chamado Steve Carella. Rockfeller aninhou-se para assistir. No momento exacto da transmissão, depois de cento e dezoito comerciais, toda a sua zona ficou às escuras. Um corte geral de energia. Rockfeller acabou a lata de cerveja. Foi até à janela. Abriu as cortinas. Tudo negro. Só ao longe algumas luzes vermelhas nos telhados dos arranha-céus, pontinhos marcando presença. Viu pois em negrume a sua cidade. Quando sentiu lágrimas nos olhos, dirigiu-se para o seu quarto, para se deitar. É tão triste, sofredora e abnegada a vida de um inspector- -chefe! 14. Na manhã seguinte Rockfeller estava deprimido, apesar da neve se ter derretido durante a noite e o dia se apresentar menos agreste, quase ameno, com o Sol como deve ser. Percorreu o longo corredor até ao seu gabinete, resmungando quando o saudavam. Resmungou ainda quando viu quem o esperava: Bone. - Bom dia, senhor. - Hum... entre. Entraram. Rockfeller deixou-se cair na sua ampla cadeira e apontou para a outra, na sua frente. Era uma ordem. Bone sempre atento compreendeu-a. Quando abriu a boca para falar, soou a campainha do telefone. - Rockfeller - disse o dito, com evidente enfado. E ficou escutando, cada vez mais interessado. Pronunciou uns quantos monossílabos e terminou, dizendo: - Bem trabalho, O'Hara. Mate-a! Nada de julgamentos. Mate-a, mas antes que denuncie a pandilha toda - e desligou. Bone ficou pálido. Muito pálido. - Afinal, Bone, o que quer de mim? Bone atrapalhou-se. Tossiu e, em seguida, acendeu um cigarro. - Bem, Inspector. Estive a rever todo o processo das explosões e não encontrei qualquer ponta, qualquer pista. Só vi que nos faltava a informação sobre o tal cientista búlgaro. - Ah! Esse! Sem interesse. Nem fiz a nota para o processo. O agente descobriu que ele andava aos pulinhos, sempre contente e a rir, porque a irmã e o cunhado, que vivem na Alemanha, jogaram em nome dele num concurso qualquer, tendo ganho um milhão de marcos. Não tem nada a ver com o nosso caso. Mas você está doente, Bone. Está cada vez mais pálido. - Sim... realmente não me sinto lá muito bem... E, mal acabou esta frase, um violentíssimo estrondo abalou as paredes, partiu os vidros das janelas, atirou ao chão o Inspector-Chefe e fez voar a porta do gabinete. Quase imeditamente, a sereia de alarme do edifício desatou num desalmado berreiro de alerta, para que todas as portas exteriores fossem fechadas. O gabinete e Rockfeller estavam irreconhecíveis. Bocadinhos de Bone tinham-se espalhado por toda a sala, como confetti de várias cores, com predominância para o magenta e o rosa-truta, para além do castanho, claro. O Inspector batera com a cabeça no chão e perdera os sentidos. Contudo, a secretária tinha-o protegido um pouco. Vários detectives e agentes acorreram olhando, da entrada, para aquela tremenda imagem de destruição. Alguns retiraram-se para vomitar. Uma porcaria pegada. Um escalracho. Uma vergonha e um nojo aquilo tudo. Merda por todos os lados. E um cheio pestilento. Os repórteres não se fizeram esperar, mas foram impedidos de entrar e não havia ainda qualquer comunicado oficial. Contudo, a edição do meio-dia do Brooklin Herald informava em manchete, que uma bomba, colocada pelos comunistas, tinha destruído, quase na totalidade, o edifício da Central da Polícia, havendo já 18 mortos e 127 feridos, dos quais dois detidos e ainda uma criancinha de colo. Após a primeira assistência médica, Rockfeller recolheu a uma clínica psiquiátrica, com distúrbios e profundas depressões verticais. O assunto assumiu, claro, cariz nacional. Nathaniel B. Clarck (NBC na intimidade partidária e familiar, como já se informou o leitor), Governador, ligou para a Casa Branca. Após vários contactos conseguiu o que queria. O secretário, nas suas memórias mais tarde publicadas ("My Life with the President"), referenciou o diálogo pormenoriza- damente. "- É grave, senhor. - Na própria Central? - Na própria! - Que medidas tomou? - perguntou o senhor. - Todas. - Os meus assessores acreditam que a mão da foice e do martelo é que accionou tudo isto. - Talvez a Nicarágua, senhor. - Mas os problemas com o Médio Oriente já estão praticamente solucionados, ou em via disso. - Mas a Nocarágua não é no Médio Oriente, senhor. - Ah não?! Pois claro que não. É na África Austral. Silêncio. - Está? - Estou, senhor. - Mobilize todas as forças. Não esquecendo as agências. - Muito bem, senhor. - Ponha-me ao corrente a qualquer hora do dia ou da noite. - Muito bem, senhor." E desligaram. ---------------------- (de Ed. B. Silverman) |
Tuesday, March 28, 2006
33.O caso da mulher com um olho de vidro (cont.)
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